19/06/2011

Roberto sai do JP e chama jornal de ‘esquizofrênico’

O presidente do PSDB, Roberto Rocha, publicou artigo neste domingo no “Jornal Pequeno” dizendo que não escreverá mais para o jornal. O tucano chama o jornal “esquizofrênico” por ter publicado no último domingo que ele seria candidato a prefeito de São Luís com objetivo de inviabilizar a candidatura do ex-deputado Flávio Dino numa articulação que teria o comando do presidente do Senado, José Sarney (PMDB).
A nota foi publicada na coluna que o diretor de Redação, Lourival Bogéa, assina com pseudônimo de “Dr. Peta”. O jornalista é compadre de Roberto Rocha. No ano passado Roberto Rocha sofreu os mesmos ataques por conta de sua candidatura ao Senado.
Na verdade, o Jornal Pequeno hoje obedece a orientação política do ex-governador José Reinaldo (PSB). Por conta disso, sempre usa supostas ligações de oposoicionistas com Sarney para atingi-los.
No artigo em que chama o ex-governador e o comunista de “oportunistas, gatunos loucos e sedentos pelo poder”, o hoje presidente do PDT do Maranhão, Igor Lago, filho do ex-governador Jackson Lago, chama o Jornal Pequeno de “panfleto de José Reinaldo”.
Leia a íntegra do desabafo de Roberto Rocha:
Política, Respeito e Amizade
Sempre entendi a política como um campo de confronto de ideias, não de pessoas. A arte de conciliar o contraditório. Nesse embate há normas de enfrentamento e de convivência, dentre as quais cultivo como uma regra de ouro a lealdade.
Há que ser leal ao que se pensa, ao que se diz, aos gestos políticos e à sua própria história. É a chamada coerência política.
Ex-deputado federal Roberto Rocha
É por fidelidade a esse preceito que estou me despedindo deste espaço jornalístico. Aqui no Jornal Pequeno, a quem agradeço, venho há anos imprimindo a marca do que penso, as inquietações de minha trajetória política e o exercício crítico de quem assumiu, desde cedo, a defesa das mudanças que o nosso Maranhão exige.
Quem se der ao esforço de compilar toda uma gama variada de artigos que assinei verá que nunca fiz da crítica, mesmo quando severa,  um instrumento de desqualificação pessoal dos adversários. Ao contrário, preservo, sempre, o respeito pessoal, a civilidade no trato e a presunção da boa-fé. Orgulho-me de, mesmo entre os adversários mais duros, não ter desafetos.
É em nome desses princípios que me despeço dos leitores do Jornal Pequeno, para os quais, por dever de coerência, dirijo estas palavras.
Não deve ter passado despercebido a esses leitores que a edição de domingo passado, a mesma que abrigou meu artigo semanal, trouxe nas páginas do “Dr. Peta” uma descabida crítica que teve o objetivo de me atingir virulentamente. Novamente, sem me dar o direito ao contraditório, o Jornal repete a infâmia durante a semana.
Fosse uma crítica política, ainda que injusta, assinada por alguém que mostra a cara, seria parte do jogo democrático.  Mas não. O objetivo era o descrédito, a desqualificação, o desaire, a me apontar como praticante de ato vergonhoso, desleal e covarde.
Mais que isso, veio revestida na embalagem de um aviso, tanto mais absurda posto que falsa em todas as suas premissas. Disse o “Dr. Peta” que eu seria vítima de uma “armadilha sarneysista”, nas eleições municipais de São Luís, com o propósito de inviabilizar as chances de Flávio Dino concorrer ao Governo do Estado. Incrível! Sem apresentar um único dado, um testemunho, um fato; apenas lança a perfídia como uma sibila empanturrada de cuxá.
E reforça o agouro, reiterando velha calúnia de que eu teria caído em semelhante armadilha para dificultar a eleição de Zé Reinaldo ao Senado. Apóia-se numa fantasia para vociferar um delírio. Se for para criticar um cálculo político, um erro estratégico, tudo bem. Mas não posso aceitar a moralização da política como instrumento de desabono pessoal.
Recuso-me a fazer parte dessa legião que acredita que Sarney tem poderes demiúrgicos capazes de tramar as mais bizarras articulações para engabelar a oposição maranhense. Mecanismo psicanalítico curioso, que se infantiliza para não ter que enfrentar os próprios erros.
Desafio quem quer que seja a apontar um gesto meu, um texto, uma afirmação que não tenha sido no sentido de unir, mas não de unificar, as oposições. União, sim, padronização e pensamento único, não!
Com que autoridade pode qualquer um me acusar de ser bucha de canhão? Logo eu que, não faz muitos anos, sacrifiquei-me para enfrentar até mesmo quem na época não era bucha, mas o próprio canhão do Sarney.
Com que autoridade podem apagar o esforço que fiz e faço, há anos, para manter a identidade oposicionista do meu partido? Mesmo quando era fácil submeter-se aos adversários, por conveniências nacionais. Mesmo quando me foram oferecidos todos os atalhos para desfrutar do poder pelo puro prestígio de cargos.
Não foi para isso que eu deixei o conforto de uma reeleição parlamentar, como também o fez o colega Flávio Dino, para enfrentar o mar revolto das disputas majoritárias. Invoquei aqui o exemplo do Flávio, que foi citado como a vítima preferencial da suposta “armação”, para que ele próprio possa dar o testemunho das conversas que sempre tivemos – e continuamos tendo – no sentido de unir as forças de oposição.
Não me calarei. Sou filho de sertanejo, criado com costela de boi, sopa de corredor e merenda de caroço de macaúba. Não cairei em velhas ciladas, conhecidas desde La Ravardière. Continuarei brandindo argumentos na crença de que a política se faz com a argamassa das idéias.
Mas, em homenagem aos 60 anos do Jornal Pequeno, que eu respeito e admiro, afasto-me deste espaço para não me sujeitar à esquizofrênica experiência de ter a minha palavra desautorizada por quem não valoriza o respeito e a amizade.

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